Crônica 2025 – Episódio 40: E o Mundial Começa!

Episódio 39 aqui

Estádio lotado. A torcida dos lutadores vibra como nunca, entoando cânticos, provocações e clamando pela vitória de seu lutador favorito. Jamais o street fighting foi tão popular e atraiu tanta atenção, com pessoas do mundo inteiro vindo assistir o segundo torneio mundial da divisão Livre. No telão as chaves dão lugar aos primeiros competidores do primeiro dia: o americano Ken, treinado no Karatê Shotokan pelo famoso sensei japonês Gouken, irá enfrentar Hwoarang, o melhor do mundo em seu estilo, o Tae Kwon Dô, treinado pelo grande mestre sul-coreano Baek Doo San.

Apesar de uma certa vantagem de Ken em popularidade, dado seu cartel de lutas, Hwoarang não torna a luta fácil para ele. Especialista em chutes, os ataques de Hwoarang são extremamente velozes e potentes, rivalizando com um dos melhores chutadores do torneio, o brasileiro Edu, mas o mundialmente famoso Flaming Dragon Punch permite a vitória de Ken Masters por nocaute no segundo assalto. A platéia vai ao delírio e confirma o favoritismo que Ken possuía nesse combate, avançando-o para as quartas de final.

Os combatentes saem da arena ovacionados pelo espetáculo, enquanto que o staff do torneio limpa as marcas no chão para os próximos competidores subirem. Desta vez é Rússia contra Jamaica, com dois novatos promissores: Vladmir Drago, filho da lenda do Boxe, Ivan Drago, e Dee Jay, o astro do kickboxe. Apesar do favoritismo do Dream Team para chegar nas finais, há toda uma polêmica ao redor da classificação de Drago, com acusações sobre Korlov, o organizador e principal patrocinador, de estar favorecendo um dos seus, como infelizmente já foi feito em torneios passados por outros organizadores com muito dinheiro.

Alheios à tudo isso, Drago e Dee Jay entram no ringue com muita vibração e dispostos a fazer uma luta justa, se cumprimentando logo no início e demonstrando grande técnica no primeiro round, onde Dee Jay leva a melhor por pontos apesar dos potentes golpes de Drago, qué um dos lutadores mais fortes do torneio após os intensos treinos. No segundo round, a luta se inflama, com Drago desesperado por acertar seus melhores golpes no jamaicano sorridente, que troca socos com seu oponente em incríveis combos, não permitindo que ele dite o ritmo da luta. Em um golpe certeiro, Dee Jay que já havia eliminado Xiang, outro membro do Dream Team, tonteia Drago nos segundos finais da luta por causa do acúmulo de danos, permitindo finalizá-lo de maneira desonrosa, porém eficaz e torna-se o algoz do time favorito, tirando o segundo membro deles na competição. O sonho acabou para o leiteiro que saiu da fazenda em busca de se tornar o maior do mundo nas lutas.

No telão, a terceira luta já está definida, com a americana Sonya Blade, tenente das Forças Especiais, e o ex-presidiário e também americano Cody Travers se enfrentando. Conforme já havia sinalizado para seu cunhado, Cody se vestiu de presidiário e até mesmo está usando algemas em provocação à sua oponente militar. A platéia ri da provocação, embora Sonya não entenda a graça uma vez que sequer está ali pelo torneio, mas seguindo pistas de uma operação do Black Dragon na região, como vazou o seu líder, Guile, em entrevista recentemente.

A luta começa com Cody tentando tirar Sonya do sério, que apesar de uma combatente com relativa experiência, se deixa levar pelas provocações do seu oponente e mesmo tendo levado poucos ferimentos, acaba perdendo o primeiro round por pontos, dando vantagem ao morador de Metro City, que diverte a platéia mas deixa seu corner e cunhado, Edu, de cabelo em pé com o risco de perder a luta. A muito custo ele consegue convencê-lo a tirar as algemas ao menos e no segundo round, Sonya coloca a cabeça no lugar e parte pra cima de Cody, que passa a ter dificuldades de segurar os ataques de sua oponente, tendo de recorrer a táticas sujas de briga de rua para derrubá-la, sacando uma faca que tinha escondido no calçado.

A vitória é de Cody, mas a muito custo e quase lhe escapando pelos dedos, com platéia se dividindo em opiniões, com alguns achando desonrado da parte de Cody lutar armado, enquanto que outros defendem que o street fighting é assim mesmo. Sonya deixa a arena profundamente irritada pelo seu desempenho fraco no torneio e suspeitando que talvez Cody tenha alguma relação com o Black Dragon.

Na quarta e última luta da manhã, é duelo de dragões: Raj, o Dragão Cuspidor de Fogo indiano, atual detentor do título de Dhalsim do Kabaddi, contra Fei Long, o Jovem Dragão de Hong Kong, um dos maiores lutadores de Kung Fu da atualidade. Apesar do indiano ser o favorito no combate em virtude de seu histórico em torneios, é o chinês que tem a maior base de fãs na torcida, com centenas de jovens gritando seu nome, declarando seu amor e levantando cartazes com fotos suas e palavras motivadoras. Alheio à tudo isso, Raj de olhos fechados tem a sua mente distante, lembrando dos ensinamentos de seus mestres e concentrando-se no combate que iniciará.

O gongo soa e Fei Long parte pra cima de Raj, imprudente, tentando terminar o combate o mais rápido possível já que ouvira falar muito das habilidades com chamas de seu adversário. Raj percebe que não será fácil acertar bolas de fogo no ágil astro de filmes de ação, então em um primeiro momento se concentra em evitar receber os seus mais poderosos ataques, como o Dragon Kick e sequências arrebatadoras de Rekka Kens. Ao que tudo indicava, a vantagem por pontos seria se Fei Long e ele levaria o primeiro round, mas nos segundos finais, a confiança do jovem ator lhe custou caro: em um descuido, quando o juiz estava para soar o gongo, Raj consegue disparar uma bola de fogo que acerta em cheio Fei Long. E outra. E outra, mostrando à platéia o maior espetáculo pirotécnico já visto em uma arena com inéditos SEIS projéteis repetindo o impacto no corpo de Fei Long que cai indefeso.

Após a espetacular finalização de Raj, que mostrou a todos porque é o maior lutador vivo do seu estilo, a platéia explode em vibração e os demais lutadores ficam impressionados com a vitória logo no primeiro round, tornando o tímido Raj mais visado pelos seus oponentes a partir de então. Com grande música todos saem para o intervalo, onde carrocinhas na frente do estádio e vendedores ambulantes fazem a festa cobrando preços exorbitantes por comida de rua e bebidas, obviamente da marca do patrocinador principal, Korlov.

Segunda Parte da Primeira Etapa

A manhã termina sem incidentes, com os lutadores Ken, Dee Jay, Cody e Raj se classificando para as quartas, enquanto que todos ficam apreensivos com algumas lutas a seguir muito indefinidas. Akuma já foi visto rondando a região, Decapre está no vestiários, com Zangief, Edu, Guy e El Fuerte,  enquanto que o misterioso Quinze ainda não foi visto e muito menos os anfitriões do torneio: Kiet e Sagat, que foram treinar nas montanhas tem uma semana e ainda não voltaram. Os alto-falantes anunciam o retorno dos combates e os fãs acotovelam-se para pegar os melhores lugares nas arquibancadas, enquanto que muitos ainda carregam lanches consigo devido às enormes filas.

O telão anuncia a quinta luta da primeira etapa: o lendário karateca japonês Akuma, que teria assassinado dezenas de outros lutadores ao longo de sua vida, contra o ciclone vermelho Zangief, que teria feito o mesmo, mas com ursos siberianos. O russo acena para a torcida, que o ovaciona dada à sua popularidade no circuito e os shows de luta-livre que costuma dar. Akuma, sentado nos calcanhares como um samurai, com o cenho franzido e uma aura maligna que pode ser sentida por qualquer um que tenha o mínimo treinamento com o Chi, prepara-se para o início do combate.

O gongo soa e Zangief já não enxerga mais seu adversário, que some em um rastro de sombras, eliminando a chance de Zangief acertar seu primeiro ataque e fazendo-o levar um forte golpe nas costas que ele sequer sabe o que foi e que o faz cuspir sangue, sentindo algumas costelas quebradas. Ao se virar para tentar agarrar seu adversário, Zangief fita os olhos vermelhos e enfurecidos de Akuma, entendendo o porquê da alcunha de “demônio” que lhe atribuem e sentindo medo pela primeira vez em sua carreira. Akuma gira mais rápido que o wrestler consegue se aproximar e inicia um Air Hurricane Kick carregado de hadou maligno. O russo é arrastado pela arena enquanto que é erguido no ar com a força de um chute atrás do outro, sendo arremessado para fora da arena, já nocauteado, logo nos segundos iniciais do primeiro round.

A platéia fica atônita e alguns lutadores que duvidavam das histórias sobre Akuma agora entendem o porquê de sua fama, incluindo a vitória sobre o campeão do primeiro mundial, Ryu. Zangief, em força física, era unanimemente o lutador mais forte do torneio e fora derrotado como se fosse um completo amador. Ken cerra os punhos e os dentes de raiva, já que o poderoso inimigo é o assassino de seu mestre e um dos motivos dele estar ali para se vingar. Akuma fita seu oponente caído fora da arena, com médicos correndo para prestar os primeiros socorros. Em outra situação, provavelmente o demônio iria executar a sua vítima, mas a vitória foi tão fácil que ele resmunga, bufa e dá as costas, saindo da arena e indo embora sem ficar para ver as demais lutas.

Logo o silêncio é quebrado ao som de berimbaus. Uma grande delegação brasileira, financiada pela rede de academias Cobra Kincaid, entoa cânticos de Capoeira antes mesmo do campeão do estilo ser anunciado no telão. A família de Edu, bem como seus vizinhos do morro estão todos lá, fazendo muito barulho com vuvuzelas, pandeiros e enormes tambores. Ume enorme bandeira do Brasil é desenrolada pela platéia sobre suas cabeças enquanto que rojões verde e amarelo são disparados, mesmo esses dispositivos sendo perigosos. O telão confirma a expectativa: é a hora de Edu contra o ninja japonês, Guy.

O ninja que estava em cima de um mastro, salta para a arena rodopiando, o que impressiona a todos, pousando suavemente como faria um gato. Ele veste seus trajes vermelhos do Bushinryu, mas com tênis ao invés de sapatilhas. Enquanto isso, Edu deixa Monteiro no corner e sobe na arena com seus trajes típicos, verde e amarelos, escrito faísca, como fazia seu falecido mestre Eddy. Eles se encaram na frente do ringue e o ninja deixa claro que acredita que ele está aqui para enfrentar Edu, que ele é o verdadeiro mal que está sentindo em seu coração. Edu discorda e garante que vai provar que o japonês está errado no combate.

O gongo soa e o combate começa com Edu gingando rapidamente, o que lhe permite desviar dos ataques mais fortes de Guy, enquanto que acerta golpes moderados, porém precisos, em seu oponente. Guy, que é considerado um dos lutadores mais rápidos do torneio finalmente encontrou alguém à sua altura, fruto do treinamento recente de Edu com Monteiro, onde ele priorizou a velocidade máximo e golpes básicos, porém eficientes. E deu certo: ao término do primeiro assalto, Edu recebeu poucos golpes enquanto que desferiu vários em seu oponente, levando a vitória técnica.

Guy começa o segundo round confuso. Edu não luta simplesmente, ele parece dançar na arena. Ele não lhe ataca como a um inimigo, ele desfere movimentos bem executados de Capoeira, somente com a finalidade de derrotá-lo. Edu não luta com raiva, mas com o coração. A dúvida cobra um preço caro de Guy, que começa a ser derrotado aos poucos, sem sequer conseguir encostar em Edu. Quando o japonês é acertado em cheio por um chute e leva alguns segundos para recobrar a consciência, a platéia vai ao delírio e ali todos tem certeza que o brasileiro vai finalizar o combate, como fez Dee Jay contra Drago mais cedo. Mas não, para surpresa de todos mas especialmente para Guy, Edu simplesmente se reposiciona, volta a gingar do início e o deixa recobrar a consciência, para então finalizá-lo mas com a chance de se defender. Perfect!

O estádio vai abaixo com tantas palmas e pés batendo no chão. Nem Raj que venceu no primeiro round ou Akuma que venceu em segundos levantaram tanta gente na platéia. Claro, os brasileiros presentes fazem questão de mostrar o apoio ao seu campeão, mas a vitória justa, limpa e com um segundo round onde Edu sequer foi tocado pelo seu adversário e foi o mais honrado que um lutador pode ser em combate, comoveram a todos. Como Edu disse em entrevista outro dia “a favela venceu”. Guy é levantado por Edu, que sorri pra ele, ao que o japonês concorda que estava errado, que apesar de Edu carregar sim uma aura estranhamente maligna em seu interior, ele é uma pessoa boa e que talvez ele não seja o mal que ele está sentindo no torneio.

O placar está mostrando a próxima luta, entre Quinze e El Fuerte enquanto que um carnaval ainda acontece nas arquibancadas. O misterioso décimo quinto lutador está presente, embora ninguém tenha visto ele chegar. Trajando um sobretudo, chapéu fedora, luvas e uma máscara de ferro, ele está imóvel, fitando fixamente seu oponente, que se aquece no outro lado da arena. Um baixo porém musculoso mexicano, com máscara típica de luchador e calças de wrestling, ele movimenta os pés rapidamente, como buscando um ritmo para o combate antes mesmo do juiz soar o gongo.

E o gongo soa. Quando isso acontece, Quinze, que parece sair de um transe, assume uma postura com centro de gravidade baixo, com punho e pé esquerdo à frente, como no Karatê. Quando El Fuerte salta sobre ele, recebe um contra-ataque anti-aéreo: um Dragon Punch! E esta não é a primeira vez que Quinze usa golpes precisamente escolhidos contra o estilo de luta de El Fuerte e que denotam um combate focado no estudo do adversário e contra-ataque. Relatos de outros lutadores corroboram essa análise e demonstram a incrível versatilidade de Quinze, que parece dominar mais de um estilo de luta e adaptar-se ao oponente.

Independente de qualquer análise ou boato sobre a sua pessoa, El Fuerte até consegue encaixar alguns golpes em seu adversário, mais cai diante a quantidade de contra ataques sofridos no segundo round. A vitória é dada a Quinze e temos o sétimo lutador das quartas de final definido, que sai do ringue silenciosamente sem nem mesmo esperar a confirmação de sua vitória ou fazer qualquer tipo de comemoração, deixando a torcida vibrando sozinha, enquanto que aplaude a saída de El Fuerte do torneio que fez um bom combate apesar das adversidades.

O placar atualiza as chaves e anuncia agora a última luta das oitavas e do dia, que já é noite, o anfitrião e campeão local, Kiet, contra a enigmática ex-agente da extinta Shadaloo, a doll Decapre. O sol se põe no horizonte e Decapre sobre a arena, visivelmente transtornada. Ele caminha curvada e ofegante, com sua katar à mostra e pronta pra esfolar qualquer um que se meter em seu caminho. Seus olhos estão vazios e ela fita o chão enquanto caminha para a arena, com a outra mão sobre a cabeça, como se estivesse com algo a incomodando. Os lutadores presentes sentem a energia maligna do Psycho Power nela, o que confirma os avisos de Cammy que a enfrentou recentemente pela vaga no torneio e perdeu. A platéia entoa a música tailandesa favorita de Kiet, que ainda não foi visto nas acomodações da vila do torneio. Seus alunos e maiores fãs, Sunan e Ploy, estão preocupados e olham para os lados, procurando enxergar seu ídolo em algum lugar do estádio.

Será que o Jovem Jaguar irá aparecer? E o que acontecerá nas quartas de final?

Isso somente no próximo episódio!