Animes de Street Fighter

Street Fighter é o mais famoso dos jogos de luta, e com certeza um dos mais famosos jogos de videogame que existem. Por isso ele ganhou uma infinidade de produtos, incluindo: cards, mangás, um RPG, figurinhas, chaveiros, camisetas, bonés e animes. Ele ganhou muitas versões em anime, e eu as considero obrigatórias para quem é fã do jogo ou para grupos que jogam aventuras de RPG (independente das regras) baseadas em Street. A seguir, teremos um texto bem explicativo sobre os vários animes de Street Fighter, e como interferem no storyline dos games.
É um texto retirado da comunidade do orkut Street Fighter Victory com a autorização do seu autor, o Danilo.

Prólogo

Durante anos acompanhei Street Fighter desde que joguei pela primeira vez, em 1992. Alguns anos mais tarde, assisti pelo SBT a série SFII V (...). Pois bem, quando comecei a me interessar por webdesign, logo pensei em fazer um site sobre a série e sobre o SFII Movie. Logo, fui buscar informações na Internet, em uma época que não tinha 90% dos seus serviços pagos e as pessoas ainda eram gente boa suficiente para passar informações. Isso foi em meados de 1999. Então, junto com algumas revistas, trocando e-mails com Alexandre Nagado (que durante anos havia reunido muitas informações sobre SF e suas séries animadas) e com um inglês, viciado em animes que agora me foge o nome. Foi desse inglês que eu tirei a maior parte das informações que hoje tenho sobre como nasceram as séries animadas de Street Fighter. O encontrei na net através de um pequeno site na época, que hoje se transformou no www.animenewsnetwork.com; Através dele e do Alexandre Nagado, conheci como nasceram o SFII Movie de 1994 e a série, de meados de 1996. Eles me mostraram informações conseguidas através da própria Capcom sobre como nasceram as idéias de cada anime lançado da época (os dois aqui citados); Então resolvi criar esse tópico porque vi muita gente aqui com dificuldades para entender a diferença entre a série, os jogos e o anime SF Movie. Segue a história (bem grande) completa com todas as informações que reuni com eles:

[1992] Sucesso do jogo

O jogo Street Fighter II faz um tremendo sucesso, superando todas as expectativas de sua empresa criadora, a Capcom do Japão. Acredita-se que 8 em cada 10 fliperamas (depois chamados de Arcades) continham o jogo no mundo. Resultado, a empresa lucra milhões (SF foi o primeiro jogo a gerar mais um 1 milhão de lucro para uma empresa de games);

[1992/93] Expandindo a marca Street Fighter

Com o sucesso do jogo e seus lucros, logo a Capcom tem a idéia de lançar vários produtos com a marca, a grande maioria voltada para o Japão. Camisetas, bonecos etc são lançados. Claro, também fazem sucesso. Vendo que seu produto poderia gerar bons frutos e com a grande procura dos jogadores em conhecer a história dos lutadores, a Capcom resolve apostar em uma nova área: dos animes. Lógico, não era a Capcom toda, mas sim seu departamento de marketing, uma vez que a empresa estava voltada a criação de jogos. A idéia de lançar um anime, desenhos que faziam muito sucesso no Japão, logo é aceita e colocada em prática. Basicamente, seria para contar um pouco sobre a história dos personagens. E teria que ser baseado em seu sucesso do momento, o jogo Super SF II, que trazia 4 novos personagens. O animes ajudariam a alavancar as vendas do jogo ainda mais. Como a empresa é uma produtora de jogos, houve a necessidade de contratar uma empresa especializada em produção de animes, principalmente a que estava mais interessada no mercado externo (leia EUA); foi decidido que essa empresa seria a Manga Entertaiment, que já mantinha escritórios nos EUA. O anime contou com supervisão direta do Sr. Okamoto e do Staff do jogo, para ter a maior fidelidade possível. Sem muitos problemas de produção e com bastante dinheiro em caixa, gerado pelos jogos, o anime é lançado em 1994 no Japão, com grande qualidade (à época, se dizia ser o anime mais bem feito de todos até o momento); Nascia "Street Fighter II - The Movie", filme que teve versões lançadas em todo o mundo, inclusive sendo censurado algumas cenas nos EUA, onde foram vendidas VHS para maiores e menores de 18 anos. É toda a história do banho da Chun Li que todos conhecem. Esse anime chegou inclusive a passar em cinemas brasileiros, mas bem mais tarde.

[1994] Divisão dentro da 'Capcom'

O departamento de marketing da empresa não dava conta de tamanhos pedidos da alta gerência para novos produtos com marca para faturar cada vez mais, e se divide em dois. Um departamento voltado para o mercado Oriental e outro para o mercado Mundial/Global. Já com as diferenças dos nomes trocados dos personagens, com os problemas enfrentados pelo jogo nos EUA com a concorrência de Mortal Kombat, é resolvido que SF iria apostar alto: o lançamento de um filme live-action (com atores reais); Fica acertado que o filme contaria com atores de todo o mundo, atores com grande renome na época. O filme fica a cargo de área de marketing da empresa. Estúdios em Hollywood são contatados para a empreitada. Com muito serviço em mãos (jogos, filmes, animes, etc), o Staff dos jogos (incluindo o Sr. Okamoto) não dão conta do serviço. Logo, a empresa decide deixar eles exclusivamente para o desenvolvimento dos jogos, deixando todo o restante relacionado à marca SF para o departamento de marketing, sobrecarregando-o. Naturalmente, eles não conseguem decidir tudo sozinhos e sem o auxílio dos criadores dos jogos, tornando a tarefa praticamente impossível. Com a constante cobrança por lucros com a marca, o departamento toma uma atitude radical: vender a marca Street Fighter. Na verdade, não se trata de vender realmente a marca, mas sim fazer um aluguel de seus direitos reservados, para que um determinado produto seja lançado e se, caso obtenha lucro, seria renovado. Resultado: milhares de produtos vendidos no mundo inteiro com o nome Street Fighter, sem nenhum aval da Capcom propriamente dita. Assim nascem o filme com Van Damme (lançado por um grade estúdio de Hollywood), vários e vários HQ's pelo mundo (até no Brasil) e uma infinidade de coisas do tipo. Cada com uma história própria, uma vez que não contava com a supervisão do Staff dos jogos, causando confusões em fãs de todo o mundo.

[1994/95] A série Alpha

Paralelamente a isso, a Capcom trabalhava intensamente em sua grande cria. A nova placa de tecnologia para Arcades, CPS2 já trazia condições suficientes para uma nova geração dos jogos de luta. A idéia inicial era logicamente com SF3, mas por algum motivo isso foi mudado. O anime SF Movie fez bastante sucesso, e as imagens das lembranças de Ryu e Ken no passado, treinando em seu dojo, faziam com que fãs do mundo inteiro cobrassem da Capcom através de cartas, mais histórias sobre os dois protagonistas da série. É decidido então que seriam lançados os jogos sobre os personagens com idades mais novas. Em conjunto, uma série de animação que ajudaria a entender melhor a história de cada personagem, ajudando a diminuir a cobrança na Capcom sobre o passado desses e a popularizar o jogo que seria lançado. O nome dessa série seria Zero, uma vez que se passariam as histórias anteriores ao primeiro jogo. O jogo tem sua fase de criação indo bem, com a nova tecnologia que permitia gráficos e jogabilidades infinitamente superiores a SFII. Assim, novamente, o departamento de marketing é acionado. Nesse meio tempo, o filme de Van Damme e Raul Julia, assim como HQ's por todo o mundo são lançados. O estrago já estava feito. O filme recebe críticas pesadíssimas tanto de especialistas em cinema, quanto dos fãs. Mas enquanto isso ainda não repercutia dentro do departamento de marketing (DM), a empresa Amuse Entertaiment, especializada em séries de animes, é contatada para realizar a série Zero, conforme o pedido da Capcom. Mas as conseqüências do filme finalmente chegam ao DM. Resultado, a Capcom furiosa, resolve cancelar a série e se fixar nos jogos. A Amuse não desiste pois SF ainda era rentável;

Nasce Street Fighter II – V

Como dito, a Amuse Entertainment ainda queria fazer a série. Mas com o cancelamento do projeto da Capcom, ela resolve levar o projeto adiante por conta própria. Ainda contando com uma das últimas licensas vendidas pelo DM da Capcom, ou seja, poderia usar a marca SF como bem entender, ela faz parcerias com outras duas empresas, o Group Tac e a TV Yomiuri do Japão. Fica decidido que a série seria feita e lançada. Mas o jogo SF Zero ainda não tinha alcançado a popularidade desejada (por isso a Capcom contava com a série antes do cancelamento) e a nova sociedade (Amuse/Tac/TV Yomiuri) resolve desistir de lançar algo sobre a série Zero. Como o jogo só se popularizou na segunda versão (SF Zero 2), eles decidem criar um enredo próprio. Nascia assim "Street Fighter II - V". Nunca se soube o verdadeiro significado de "V", alguns diziam ser 5 em número romano, mas a série ficou popularmente conhecida como "V" de Victory. Ficou também decidido que essa série não seria como as de grande sucesso da época, Dragon Ball e Cavaleiros do Zodiaco. Em troca de uma grande série com inúmero capítulos e baixa qualidade, eles preferiram reduzir ao máximo o número de capítulos, para aumentar a qualidade gráfica. Cenas comuns em DB e CDZ como repetição dos mesmo slides, horas e horas de conversas para explicações etc não eram a tônica dessa série. Ela seria simples, rápida e objetiva. Partindo desse ponto, decidiram sobre o enredo. Esse era o principal. Com histórias sobre os personagens pipocando pelo mundo todo, cada uma mais diferente da outra, eles resolveram fazer algo diferente. Contariam como eram os personagens em sua adolescência. Mas claro, eles já haviam decidido que isso não seria fiel aos jogos, uma vez que abandonaram a série Zero. Isso seria contado de acordo com um enredo próprio. Mas, quais personagens usar? Como a série Zero ainda não era o sucesso esperado, eles resolveram apostar na que já tinha sido consolidado como sucesso: os personagens da série de jogos Super Street Fighter II, incluindo o Akuma, personagem que nasceu no jogo Super SF Turbo. Decidido como seria tudo, a série foi produzida, com uma alteração no visual dos personagens. Ryu com cabelo "porco-espinho", Zangief com "mullets" etc. As idades também não correspondiam ao jogo, como por exemplo, Cammy ser mais velha que Chun Li. A série nasce com grande qualidade na animação e o roteiro feito é muito engraçado, divertido e inteligente, se apoiando em temas como amizade e superação de desafios. Algo nada fora do comum para animes japoneses, ou seja, foi feito sob encomenda para se tornar de fácil compreensão e ser popular. Uma das curiosidades é que a TV Yomiuri, que ajudou na produção, não foi a primeira rede a exibir o desenho. Foi uma outra rede japonesa, a Fuji TV. O anime atinge facilmente o sucesso no Japão, tudo sem que a Capcom lucrasse com nada, além dos direitos reservados que já haviam sido vendidos cerca de um ano antes. O anime segue o rumo do Ocidente, que começa a despertar para o mundo dos animes. Chega aos EUA através da Manga Entertainment, a mesma que produziu o SF Movie de 1994, mas dessa vez ela se limita a distribuição na terra do Tio Sam. O anime também chega a Europa pouco mais tarde, e logo depois no Brasil, através do canal SBT. O sucesso atingido no Japão não é o mesmo dos EUA, onde o mercado consumidor é mais exigente (lembra da história do enredo?) e onde ver um japonês como protagonista não é visto com bons olhos. Mas apesar disso, o anime atinge sucesso relativo nos States. Na Europa se sai melhor ainda, mas também não chega perto de Cavaleiros do Zodíaco, carro-chefe no continente. No Brasil, ponto pouco estratégico, o anime atinge relativo sucesso, mas os japoneses não costumam computar América do Sul e África como bons mercados, algo natural, por isso os números daqui são imprecisos.

No geral, no Brasil, Street Fighter II Victory fica sendo a série mais popular entre os brazucas, uma vez que o anime SFII Movie só chegou anos depois aos cinemas. Resultado: muitas confusões aqui, principalmente com relação a enredo e histórias entre animes e jogos, também ajudados por informações desencontradas lançadas pela revista "Herói" da época. Alguns fãs tupiniquins tentam relacionar essa série, do qual a Capcom nada teve a ver, com as histórias do jogo ou do outro anime. Algo natural, causado principalmente por muitos desencontros entre nomes do Ocidente e do Oriente, atrasos nos lançamentos de jogos e animes, HQ's produzidas para o mercado interno também com enredo alternativo e etc. No geral, basicamente e resumido ao extremo, foi assim que surgiu essa série. Acredita-se que uma continuação seria natural, até por aparecerem imagens na abertura e encerramento que não são vistas durante o anime. Mas com o fim do aluguel dos direitos sobre a marca, devido principalmente ao malfadado filme live-action, a continuação jamais existiu e dificilmente existirá.

[1997 em diante] Resultados finais

A Capcom continuou sua vida normalmente, voltada a criação de jogos. SF3 era lançado alguns anos mais tarde. E já não tinha o mesmo fôlego de antes. Os produtos relacionados à marca ficam bem mais raros, uma vez que agora cada um desses eram bem vistoriados antes de serem lançados. Muitas séries depois, como os Crossovers (X-men vs. Street Fighter, por exemplo), SF EX (tentativa de uma versão do jogo de luta em 3D) e a continuação natural da série com SF3, a Capcom resolve começar a preparar a festa de aniversário de 15 anos da série. Ela novamente volta a pensar em seu antigo projeto, do lançamento do anime baseado em seus personagens da versão Zero. Mas uma série não era mais possível, uma vez que a marca Street Fighter já não trazia os dividendos de outrora. Fica decidido que seria feito um OVA, anime de longa metragem com duração aproximada de 90/120 minutos. O anime é feito, com total aval da empresa.

Lançado em 2001 e com pouquíssima divulgação, tem resultados pífios no mercado externo, se limitando a fãs - já raros - no Japão. Com uma história que remete a uma continuação, os problemas que Street Fighter enfrenta dentro da empresa Capcom, tornam isso pouco viável. Yoshiki Okamoto sai da Capcom para trabalhar para Bill Gates no projeto do X-Box, levando consigo parte dos direitos sobre a marca Street Fighter. Tanto jogos novos como outras coisas relacionadas à SF ficam paradas na Capcom, com exceção dos projetos que tiveram seu início antes da debandada do Sr. Okamoto (como SNK vs. Capcom); Na Internet, "Street Fighter Zero 2 - The Animated Movie" chegou a estar na lista de animes mais esperados com a 13ª posição, mas a Manga Entertainment - que chegou a divulgar uma foto com a inscrição desse anime - não mais responde por ele. Com uma grande surpresa para os fãs já sem esperanças, "Street Fighter Zero: Generations" é lançado no Japão em 2005. Sendo uma prequel segundo o próprio (prequel não tem tradução exata para o português, seria algo como antecessor), o anime tem divulgação quase nula internacionalmente e só é descoberto pelo grande tráfego de informações que a Internet traz. Realizado também pela Capcom/Manga, mas com direitos limitados, é o mais curto de todos e feito já com uma nova tendência nos traços dos animes. Influenciado pelo aclamado "A Viagem de Chihiro", esse anime é feito com um traço menos Mangá, causando certo transtorno entre os poucos fãs restantes. Não se sabe se a continuação de "SF Zero" será mesmo feita, se ainda teremos algum jogo Street Fighter a ser lançado (SF4 parece que está a caminho, mas nada está confirmado), os fãs de SF ainda ficam a ver navios por erros da Capcom na estratégia de marketing e seu desejo interminável por lucros desesperados. É esperar pra ver...